Epidemiologia da Infecção de Sítio Cirúrgico
A infecção de sítio cirúrgico (ISC) é uma infecção mais comum relacionada à assistência à saúde, responsável por aproximadamente 20% dentre todas as infecções num hospital, com alta taxa de incidência. Estes números trazem consigo elevados gastos para as instituições e significativas taxas de morbidade e mortalidade de pacientes.
As taxas de infecção de sítio cirúrgico relacionadas ao potencial de contaminação de ferida mostram que as feridas limpas possuem um índice de 1 a 5% de infecção, as potencialmente contaminadas de 3 a 11%, as contaminadas de 10 a 17% e a suja 27%
As ISC acrescem em média de 7 a 10 dias de hospitalização, interferindo na dinâmica de leitos e nos custos, com destaque para cirurgias de grande porte onde muitas vezes a permanência hospitalar é prolongada. Neste contexto, há entraves no agendamento e na gestão dos leitos, envolvendo internação por especialidade, taxa de ocupação, média de permanência hospitalar, entre outros.
A importância da prevenção da Infecção de Sítio Cirúrgico
Diante dos efeitos prejudiciais acarretados pelas infecções cirúrgicas tanto para a instituição quanto para o paciente, a prevenção e o controle das infecções relacionadas a este procedimento tornam-se essenciais.
Segundo recomendação da ANVISA, a vigilância epidemiológica destas infecções deve constituir uma pauta importante nas instituições, prevista na Portaria nº 2616 de 12 de maio de 1988. Estes fatos devem, portanto, serem vigiados e consequentemente prevenidos, requerendo que os hospitais avaliem seus pacientes quanto ao risco de desenvolver uma ISC, durante o período pré-operatório, durante o período de internação e também após receberem alta.
As medidas de prevenção de Infecção Cirúrgica são classificadas em medidas de controle pré operatória, transoperatória e pós operatória. Estima-se que mais de 60% das ISC podem ser passíveis de prevenção com a aplicação de recomendações baseadas em evidências científicas em cada uma destas fases, sendo que a redução de incidência em cirurgias limpas chega a 0,5% em cirurgias limpas e até menos de 2% nas altamente contaminadas.
Classificação da Infecção do Sítio Cirúrgico
As infecções de sítio cirúrgico são classificadas de acordo com os planos acometidos, sendo incisional superficial, incisional profunda e em órgão/cavidade, as quais possuem critérios para estas definições que serão abordados em outro artigo. Dentre as complicações mais frequentes que comprometem a ferida cirúrgica de médio a grande porte podem ser citadas:
- seroma
- hematoma
- deiscência
- infecção
- infecção necrotizante de partes moles.
A maioria das infecções podem ocorrer entre o 4º e 6º dia pós procedimento, sendo considerável infecção em até 30 dias ou até 1 ano em caso de implantes, justificando a necessidade de uma vigilância pós alta do paciente. A detecção destas infecções podem ser detectadas durante a internação cirúrgica, em readmissão hospitalar ou no pós alta em acompanhamento ambulatorial.
O que é a Metodologia NNIS: National Nosocomial Infections Surveillance
No processo de identificação de ameaças à ISC, o índice básico (NNIS) National Nosocomial Infections Surveillance é o escore prognóstico mais utilizado para o ajuste do risco de infecção do sítio cirúrgico. De acordo com a última avaliação de desempenho comunicada pelos CDC, que recopilou dados de cirurgias comunicadas ao sistema NNIS entre janeiro de 1992 e junho de 2004, o índice básico NNIS provou ser ferramenta útil na estimação e ajuste do risco de ISC para uma variedade de procedimentos, entretanto não leva em consideração alguns fatores importantes que melhorem sua estimativa, podendo prejudicar sua interpretação.
O escore de NNIS possui as seguintes variáveis que o compõem:
- o índice ASA,
- o potencial (risco) de contaminação do procedimento cirúrgico e
- a duração da cirurgia.
O índice de risco anestésico da ASA avalia a condição clínica do paciente; o potencial de contaminação define a microbiota provável encontrada no sítio cirúrgico e o tempo de duração das cirurgias são definidos como porte 1 (até 2 horas), porte 2 ( de 2 a 4 horas), porte 3 ( de 4 a 6 horas) e porte 4 (acima de 6 horas).
A significância dessas variáveis é citada em vários estudos como um fator capaz de aumentar a incidência de ISC. De acordo com o somatório dessas 3 categorias os pacientes são classificados em grupos com pontuação de 0 a 3, sendo considerado respectivamente baixo risco e alto risco.
Referências:
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013.
ALEXANDER, J.W; SOLOMKIN, J.S; EDWARDS, M.J. Updated Recommendations for Control of Surgical Site Infections. Ann Surg: 2011.
APECIH. Associação paulista de epidemiologia e controle de infecção relacionada à assistência à saúde. Um Compêndio de Estratégias para a Prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde em Hospitais de Cuidados Agudos. São Paulo: 2008.
NNIS SYSTEM. National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) System report, data summary from January 1992 through june 2004, issued October 2004. American Journal of Infection Control. New York:, v.32, n. 8, p. 470-485, 2004.
RODRIGUES, A.L. et al. Avaliação de pacientes quanto à infecção de sítio cirúrgico, em um hospital público de Belém-PA. Revista Paraense de Medicina. Belém: v.28,n.1, 2014.
Enfermeira, Mestre em Educação e Docente de Enfermagem. Possui especialização em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar e experiência nos temas: CCIH, Gestão da Qualidade, Epidemiologia, Educação Permanente em Saúde e Segurança do Paciente.